sábado, 18 de novembro de 2017

20/11 DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA E COMEMORAÇÕES DURANTE A SEMANA


 Parabéns aos professores, coordenação, direção e alunos envolvidos até este exato momento e teremos mais durante a semana do dia 20/11/2017

Mudança de Idade

Para explicar
os excessos do meu irmão
a minha mãe dizia:
está na mudança de idade.
Na altura,
eu não tinha idade nenhuma
e o tempo era todo meu.
Despontavam borbulhas
no rosto do meu irmão,
eu morria de inveja
enquanto me perguntava:
em que idade a idade muda?
Que vida,
escondida de mim, vivia ele?
Em que adiantada estação
o tempo lhe vinha comer à mão?
Na espera de recompensa,
eu à lua pedia uma outra idade.
Respondiam-me batuques
mas vinham de longe,
de onde já não chega o luar.
Antes de dormirmos
a mãe vinha esticar os lençóis
que era um modo
de beijar o nosso sono.
Meu anjo, não durmas triste, pedia.
E eu não sabia
se era comigo que ela falava.
A tristeza, dizia,
é uma doença envergonhada.
Não aprendas a gostar dessa doença.
As suas palavras
soavam mais longe
que os tambores nocturnos.
O que invejas, falava a mãe, não é a idade.
É a vida
para além do sonho.
Idades mudaram-me,
calaram-se tambores,
na lua se anichou a materna voz.
E eu já nada reclamo.
Agora sei:
apenas o amor nos rouba o tempo.
E ainda hoje
estico os lençóis
antes de adormecer.
MIA COUTO
No livro “Tradutor de chuvas”
Rita Baiana - "o Cortiço " de Aluísio de azevedo









































 Mulheres 
    
Vera Duarte


Queria ser uma mulher leve e diáfana
De gestos lânguidos
E andar etéreo
     Esvoaçante sobre as linhas frágeis
     Do meu corpo magro
Queria ser uma mulher esbelta
De sorisso tímido e olhar esquivo
        Sob as minhas pálpebras doces
         E profundas
Queria ser uma mulher sensual
De formas cheias
E peito redondo
          Num riso quente
          E tropical
Queria ser ...
... e não sou
queria mas meu corpo 
   se contorce
   irremediavelmente definhado
   sobre esta maldita fome
         que me destrói 
queria mas meu corpo
     explode em chagas purulentas
     desta maldita sida
      que me devasta
queriamas o meu peito 
     se exaure
     na busca desesperada do leite
          para a criança
           que me morre nos braços
com a minha voz 
                  eu clamei
                   mas a minha dor permaneceu
                   intacta
por que te conservas longe, senhor?

Por que te escondes nos tempos de angústia?









Dança dos Orixás






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